Este conto foi premiado em Primeiro Lugar na categoria Conto/Crônica, pela Bienal Brasília do Livro e da Leitura em 2012. Obra inédita da aluna de escola pública Johanny Cássia Cavalcanti Barros, 13 anos de idade na época. Está também publicado no livro produzido pela Bienal.
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John Kylei, dezoito anos,
órfão de pai e mãe, criado por seus tios maternos, sempre viveu sozinho, pois
seus tios não tinham filhos. Na infância gostava muito de quando seu pai lhe
lia livros em noites frias e pacatas, essa era a única lembrança boa que tinha
de seu pai.
Seus pais morreram vítimas
de balas perdidas, há quem não acredite, pois é muito inesperado duas pessoas
morrerem ao mesmo tempo, juntas e pela mesma causa, mas acreditando ou não, foi
o que ocorreu no fatídico dia em que John tornou-se uma criança órfã e
solitária.
Seu tio Conor Morgan era
escritor e sempre incentivou John a ler muito, já que ler libertava o menino e
o fazia sentir-se melhor, sua tia Melinda Morgan era dona de uma livraria,
moravam em Victor Harbor, na Austrália. O menino levava uma vida confortável e
tranquila, pois sua condição social o permitia ter certos confortos.Nos sábados
à noite costumava ir à livraria de Melinda para estudar e ler.
Num sábado chuvoso e frio,
resolve ir à livraria, pois no dia anterior sua tia lhe informou de que haviam
chegado livros novos e que talvez fossem de seu interesse, aquela não era uma
noite muito adequada para sair, já que estava chovendo e fazendo um frio
sinistro, mas John não se aguentou de curiosidade quanto aos novos livros
desconhecidos, algo sobrenatural estava lhe incomodando.
Se levantou da poltrona
confortável e aquecida por horas de sono, calçou suas botas meio sujas de lama,
trocou de camisa, colocando uma mais grossa, continuou com a mesma velha calça
de dormir, pois era quente, e vestiu-se com seu suéter marrom, colocando por
cima um sobretudo onde estava estampado atrás “Star Trek”, e o símbolo do filme
venerado pelo rapaz que alucinava em tudo relacionado
à Guerra nas Estrelas. Avisou que estava de saída, pegou a chave, já que sábado
à noite a livraria não costumava estar aberta, dirigiu até o local rapidamente,
chegando lá estacionou, e correu apressadamente até a porta para abrir. O local
estava com um cheiro agradável, de leite quente e perfume de neném, respirou forte
para sentir melhor, o cheiro era agradável e conhecido, John estranhou, pois
não era normal aquele cheiro, pelo menos não na livraria, logo descartou o
ocorrido estranho e entrou. Sentou-se numa mesa pequena e procurou sentado
mesmo pelas caixas que ainda nem haviam sido descarregadas, quando as viu,
levantou-se, abriu a primeira caixa, com um ar de interesse extremo, só tinham
alguns livros culinários que não eram nada de seu interesse, viu outras duas
caixas empilhadas, tirou a de cima, pois queria abrir a de baixo, não sabia o
porquê, só queria e pronto. Abriu pensando: Precisarei ser forte, será que consigo? Sussurrou mesmo estando sozinho a frase “Que a força esteja com você”, respirou fundo e vagarosamente, abriu a caixa e tirou alguns plásticos que protegiam os livros, e se surpreendeu, na caixa só havia um livro. Mas porque numa caixa deste porte um só livro? Ficou perplexo, mas seguiu em frente, terminou de tirar os plásticos protetores, numa pressa tão absurda que nem mesmo acreditou, a partir do momento em que viu a capa do livro não conseguia enxergar mais nada a sua volta, somente o livro, não conseguia distinguir o que sentia e não sabia nem mesmo o que dizer. Estava praticamente em outra dimensão, nunca havia sentido aquilo, era como se tivesse encontrado seu pai, como se tudo de bom que tinha de suas levianas lembranças infantis estivesse se fazendo presente ali, mas não era apenas um livro?
Enfim John automaticamente
pegou o livro, que não tinha título. Aperiu, mas numa tranquilidade tão estranha
quanto incomum. Quando o rapaz abriu teve outra surpresa menos esperada ainda,
o livro só tinha uma página. Mas como assim uma página? Bem, não era uma página
comum, era uma imagem, uma imagem grande, que ocupava todo o espaço.
Na imagem tinha um quarto,
bem parecido com o de John quando bebê, as paredes pintadas com um tom de azul
suave, havia poucos móveis, apenas um berço branco e trabalhado, uma cadeira
que balançava, uma simples cômoda antiga, com um copo de leite quente saindo
fumaça e um pote de vidro de algodão.
Era possível ver a chuva
caindo lá fora e a cortina levantando por conta do vento, era uma noite fria e
pacata, no berço estava um bebê de aproximadamente uns sete meses talvez,
aparentemente a criança acabara de tomar banho e estava perfumada, na cadeira
um homem, bem parecido com o pai de John, esse homem olhava com tanta pureza
para essa criança e estava lendo um livro ilustrado para o bebê quase
adormecido, mas lendo cuidadosamente, e com um amor aparente, que qualquer um
que olhasse perceberia o quão grande era o sentimento daquele homem por aquele
ser, John percebeu que o homem era o pai do pequeno garoto, o homem era o pai
de John, e o bebê era ele mesmo, sim era John.
Mesmo assim sentiu uma
inveja e uma tristeza tão grande ao olhar aquela imagem que lhe causava
tranquilidade e raiva concomitantemente, sua raiva era tão profunda e
perturbadora, que juntada com sua tristeza acumulada há anos, foi capaz de
entrar naquela imagem.
Tudo era muito real, o vento
batendo, o barulho da cadeira balançando, os gemidos leves do bebê, a
respiração e as palavras do homem. Ele estava lá, teve a chance de viver aquele
momento outra vez, era o que pedia todas as noites antes de dormir, era o que
lembrava todas as manhãs antes de se levantar.
Precisava ser forte, pois
sabia que aquele momento era passageiro, como todos, sem pensar e sabendo que
era uma atitude desprezível, se aproximou vagarosamente da cômoda, olhando para
o pai e o bebê, pegou o pote de vidro de algodão, se aproveitou da completa
distração do pai e foi até o berço, abriu o pote, pegou alguns poucos tufos de
algodão, apoiou o neném no berço, abriu os tufos e fez algumas poucas bolas
firmes do material, suspirou forte, gotas quentes e tardias caíam sem cessar de
seus olhos, pegou os pequenos orbes de algodão, os colocou nos ouvidos do
neném, na boca, nas narinas sensíveis daquela pobre criatura, a deixando
imóvel.
Era como se todos os
sentidos do neném estivessem presentes nele, suas mãos frias e tremulas
acariciaram o rosto do pequeno John e num segundo sombrio, morreram os dois, ao
mesmo tempo, juntos e pela mesma causa, acreditando ou não, foi o que ocorreu
no fatídico dia em que John e John foram viver junto a seus pais.
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Excelente crônica, leitura prazerosa.
ResponderExcluirParabéns pelo blog Joh... Já está super bonito e cheio de coisa boa!! Excelente a idéia de divulgar seus textos!! Um beijao!!
ResponderExcluirJhannyfer Cavalcanti.
Parabéns pelo blog novamente. Titulo perfeito, Aparência perfeita e o que mais importa, os textos são e serão todos perfeitos. To ansioso por tudo!
ResponderExcluirAmei esse texto muito
ResponderExcluirbom vou ler sempre...
Muito obrigada, fico feliz, feliz mesmo, por outras pessoas lerem e gostarem dos meus escritos. Vou postar bastante coisa aqui, fique ligado ! Beijo !
ExcluirJoh...
ResponderExcluirAmooo esse texto desde que você me mostrou ele!!!
Realmente é muito bom...
Adorei você ter feito este blog, parabéns por ele!!
By: Sabrina S2