segunda-feira, abril 21, 2014

Meu âmago




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Os monges no Templo Shaolin, os deuses no Olimpo, a Guernica de Picasso no Reina Sofia, Mona Lisa no Louvre, as prostitutas em bordéis, arcaicamente cabarés.  E você... por tantos lados. Tantos lados definidos, em tão grau decretado. Em meus olhos, no tecido abaixo de meu seio não destro, nas linhas da minha mão, nos quadrados da rede de proteção, nas luzes dos postes, na força da chuva quando cai, você é a onda que ela provoca no fim da rua. 

Quando meus olhos estavam fechados, dormindo, entregues ao sono literal, eu não percebia que devia seguir aos monges, e somente clamava aos habitantes do Olimpo. Você me mostrou Guernica, contou aquela história de puerícia que não esqueço mais, me deixou viajar até Mona Lisa pelo guia de viagens que recebi junto ao teu carinho naquela tarde de horas contadas, que um dia hão de acabar, sendo comutadas por horas acrescentadas.

Quanto sofrimento há nos bordeis? A gente para pra pensar nos destinos displicentes que moram ali? Não tiveram ninguém por eles, não foram interlocutores de conselhos, de tentativas de compreensão, não tiveram o amor, ou o afastaram e logo não houve mais tempo para consertar. As cidades estão repletas de prostíbulos com almas arrependidas... mas por que essa comparação? O que tem partilhado entre eles e eu? Visualmente nada, nem muito logicamente também.

Um tacanho exemplo daqueles que aparecem na cabeça quando você se depara com a sorte que tem. Com a oportunidade que a vida te deu, com os planos, com aquela força maior que te acompanha. 

As coisas sempre estiveram ali, narrativas eu sempre ouvia, compreensão eu sempre tinha, tudo aquilo do que eu precisava, mais do que eu pedia.
Sempre sou pega de surpresa por você... tenho em mim uma orbe de luz que quer te conquistar. Estar, fazer, referir... interessar-te-ás.

Minha pupila dilata a cada palavra. Meus pelos arrepiam-se quando prova-me, quando prova-me com as palavras. Desata uma fenda no meridiano da barriga quando egoistamente escorrego, dando lugar a um vento forte e frio que não é bem-vindo a passar ou visitar.

Pinturas na pele. Meu nome marcado, meu beijo... as linhas, as medidas, o encaixe perfeito. Coisas que me fazem feliz, causadas por ela. All my loving.

Abrindo os olhos verdadeiramente, para acompanhar meu coração.

Tanto tempo, mas ainda há mais, há uma vida, mas principalmente há o agora.

Um espaço, uma deixa, um lugar. Tempo, meu mal, tempo, meu azo.

As palavras aqui não completas, um bocado final, cá não se encontram... penetradas em meu âmago estão. 

Firme, disposto, heis-me aqui, falou o arbítrio.  

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